Há uns meses, confessou-me um grande amigo meu, um especialista em história contemporânea que teve a fortuna de participar no assalto ao edifício da Legião Portuguesa, que depois do que se tinha passado na Islândia (viz. a entrega do poder aos mesmos de sempre após um período em que um governo de esquerda tinha conseguido reequilibrar as contas públicas), se tinha convertido ao cepticismo.
Com efeito, o que se passa é, para muitos de nós, aterrador, pois não estamos a assistir apenas a um contraciclo de curta duração, mas a um fenómeno de dimensão estrutural. Estamos a testemunhar, julgo eu, a um processo de transição da contemporaneidade (período cujo início, por uma questão de simplificação, se costuma associar ao advento revolução francesa), para algo que não sabemos ainda bem o que seja. O mundo que muitos de nós viemos a conhecer, que nos viu crescer e que moldou as nossas mentalidades, não existe mais.
A amoralidade e a confusão a que assistimos todos os dias, não é mais que -- passe a metáfora -- o reajustamento das placas tectónicas do tempo. Tenho, por isso, muitas dúvidas que os modelos de interpretação da realidade que temos vindo a utilizar, sejam úteis no futuro. Numa perspectiva darwinista da história, diria que sobrevirá quem tiver a capacidade de intuir esta mudança, por outras palavras, quem souber ou puder adaptar-se.
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